COMPLEMENTARIDADE INTERSEMIÓTICA INTERPESSOAL NA REPORTAGEM DIETA SEM SEGREDO

 

Janaina Carvalho Ferreira (PPGL – UFSM - CAPES)

 

1 Introdução

 

Os gêneros discursivos cumprem suas funções comunicativas a partir da linguagem e, atualmente os que se materializam de modo escrito, o fazem com textos multimodais, ou seja, está presente mais de um modo semiótico de linguagem, como por exemplo, linguagem verbal e imagética. Nesse sentido, tomamos como exemplo o gênero discursivo reportagem de capa da revista Superinteressante para apresentar como se fazem presentes essas duas linguagens e se de alguma forma elas relacionam-se entre si, de modo a complementarem-se.

Considerando para a análise linguística a Gramática Sistêmico Funcional (GSF) de Halliday (1994) e Halliday e Matthiessen (2004) e suas metafunções, destacamos neste trabalho a metafunção interpessoal, que trata das relações entre produtor e leitor; já para a análise visual, faremos uso da Gramática do Design Visual de Kress e van Leeuwen (1996, 2006) que tem como base a teoria da GSF. A fim de traçar relações entre os dois modos semióticos, contamos com a Teoria da Complementaridade Intersemiótica de Royce (2007), que trabalha justamente com os teóricos citados. Além de todo levantamento linguístico e visual que nos propomos a fazer neste trabalho, iremos tentar compreender de que forma essas linguagens constroem o gênero em questão, visto que ele tem como foco popularizar a ciência a partir de um texto multimodal fácil, divertido e interessante.

2 Referencial teórico

2.1 Metafunção interpessoal

 

As metafunções na Gramática Sistêmico Funcional são três: ideacional, interpessoal e textual e elas têm como unidade de trabalho a oração, que pode sinalizar representação, troca e mensagem respectivamente. O foco deste estudo está na metafunção interpessoal em que são estabelecidas as relações entre os participantes da leitura e a troca realizada é de bens e serviços ou informações. A troca de bens e serviços ou informações definem segundo Halliday e Matthiessen (2004) as funções primárias da fala: oferta, comando, declaração e pergunta. A figura abaixo apresenta como essas trocas se estruturam:

 

Papel na troca

Mercadoria trocada

Bens e serviços

Informações

Dar

Oferta (“Você gostou desse bule para chá?”

Declarações (“Ele está dando para ela o bule de chá.”

Solicitar

Comando (“Dê-me o bule de chá”)

Perguntas (“O que ele está dando para ela?”)

Halliday e Matthiessen (2004, p.107)

 

As mercadorias trocadas originam orações que se apresentam como proposições em que informações podem ser afirmadas, negadas, contraditas, aceitas, etc; já se as mercadorias negociadas são bens e serviços temos propostas.

O principal sistema gramatical das orações como troca é o MODO, que pode ser constituído de duas partes: Sujeito e Finito. O sujeito é um grupo nominal e pode ser representado pelas categorias gramaticais que funcionam como sujeito (substantivos, pronomes, palavra ou expressão substantivada) e o finito expressa tempo verbal e modalidade. Para Halliday e Matthiessen (2004, p. 112) “o termo ‘Sujeito’ como nós estamos usando corresponde ao ‘sujeito gramatical’ da terminologia anterior; mas ele está sendo reinterpretado aqui em termos funcionais.” A união entre sujeito e finito dá origem ao modo, que é o elemento da estrutura interpessoal da oração, diferente do MODO que é o sistema primário interpessoal da oração. “O MODO é o elemento que realiza a seleção do modo na oração” (HALLIDAY e MATHIESSEN, 2004, p. 113). Nas orações, além do sujeito e finito há o resíduo que é de três tipos: predicador, complemento e adjunto. O que não faz parte do elemento modo é resíduo.

O MODO se materializa em orações declarativas, interrogativas e imperativas. Além disso, essas orações podem ter polaridades, ou seja, serem positivas ou negativas e as polaridades podem transitar por esses dois pólos, originando a modalidade. A modalidade diferencia-se para as proposições e propostas. As proposições podem afirmar ou negar coisas e existem dois tipos de graus intermediários: probabilidades e usualidades. Nessa diferenciação, a modalidade para as proposições é nomeada de modalização. As propostas operam com a modalidade no sentido de prescrever e proscrever; modalidade positiva: faça isto; negativa: não faça isto. Os comandos têm graus de modalidade que representam obrigações e as ofertas, graus de inclinação. Essas escalas são nomeadas de modulações.

A partir da metafunção interpessoal da GSF, Kress e van Leeuwen configuraram a metafunção interativa, que trata das relações entre expectador e produtor no âmbito visual.

 

2.2 Metafunção interativa

 

A metafunção interativa trata das relações entre o produtor e o observador da imagem. Esses dois tipos de participantes são denominados por Kress e van Leeuwen (2006, p. 114) de “participantes representados (as pessoas, os lugares e coisas apresentadas em imagens) e participantes interativos (as pessoas que comunicam com outras por imagens, os produtores e observadores das imagens).” Além disso, eles apresentam três tipos de relações:

1    – relações entre os participantes representados;

  1. – relações entre participantes interativos e representados;
  2. – relações entre participantes interativos.

Essas relações são norteadas por características como o contato e o olhar, o tamanho do quadro e a distância social, o ângulo horizontal e o ângulo vertical.

Quanto ao contato e ao olhar é preciso considerar se na imagem os olhos do participante representado são vistos ou não pelo observador, pois é a ausência ou presença do olhar que determina o contato entre o participante representado e o expectador. Para Kress e van Leeuwen (2006, p. 117) “quando o participante representado olha para o observador, vetores formados pelas linhas dos olhos dos participantes conectam os participantes com o observador. Contato é estabelecido, mesmo que seja só em um nível imaginário.”

Quando o olhar é percebido, tem-se uma imagem de demanda, em que o olhar do participante representado demanda (pede) algo do observador. Por outro lado, quando este olhar está ausente, temos uma imagem de oferta, em que é oferecida uma informação ou a imagem é apenas para contemplação. Os conceitos visuais de demanda e oferta podem ser relacionados com os conceitos linguísticos de demanda e oferta propostos por Halliday e Matthiesen (2004).

Quanto ao tamanho do quadro existem as dimensões de close-up (plano fechado), de plano médio ou plano aberto, essas dimensões sugerem diferentes relações entre os participantes representados e o observador. Kress e van Leeuwen (2006, p. 124) apresentam as seguintes características para identificar essas dimensões:

- close-up: é vista a cabeça e os ombros do participante representado;

- plano médio: o participante é apresentado na altura da cintura ou até os joelhos;

- plano longo: mostra toda a figura.

Segundo Kress e van Leeuwen (2006, p.124), “nas interações diárias, relações sociais determinam a distância (literalmente e figurativamente) que nós mantemos um do outro.” Desse modo, as diferentes distâncias sociais também oferecem diferentes interpretações, como distância pessoal próxima (distância entre pessoas íntimas), longa distância pessoal (distância que possibilita a discussão de interesses e envolvimentos pessoais), distância social média (distância em que ocorrem os negócios) e distância pública (distância entre pessoas estranhas).

O ângulo horizontal das imagens especifica relações de envolvimento entre o participante e o observador. O ângulo pode ser paralelo (frontal) ou oblíquo, que produz distanciamento entre o participante representado e o observador, enquanto o frontal confere envolvimento. Kress e van Leeuwen (2006, p. 136) afirmam em relação ao ângulo frontal que “o que você vê aqui é parte do nosso mundo, estamos envolvidos com algo nele” e em relação ao oblíquo que “o que você vê aqui não faz parte do nosso mundo, é o mundo deles, nós não estamos envolvido nele.”

O ângulo vertical está relacionado com relações de poder entre o observador e o participante representado. O participante representado em um ângulo alto cria uma relação em que o observador tem poder sobre o que está na imagem, já se o ângulo é baixo, o participante representado tem poder sobre o observador. Caso os participantes representados estejam no nível do olhar, indicando uma igualdade entre quem observa e o que é mostrado, não há diferença de poder envolvida e sim igualdade.

Além dessas características apresentadas que constituem a metafunção interativa da imagem, há um elemento que também deve ser considerado e está incluído no âmbito das relações, que é a modalidade visual, visto que este termo já foi referenciado para a análise linguística. A modalidade trata da veracidade e confiabilidade das imagens, mas “os julgamentos de modalidade são sociais, dependendo do que é considerado real (ou verdadeiro, sagrado) no grupo social em que a representação é primeiramente entendida.” (KRESS e van LEEUWEN, 2006, p. 156). Para a análise da modalidade precisam ser levadas em conta as seguintes marcas: saturação da cor, diferenciação da cor, modulação da cor, contextualização, representação, profundidade, iluminação e brilho. Essas marcas variam de presença total ou ausência de cores saturadas, diversidade, modulações, plano de fundo e abstração ou presença de detalhes.

Todos os elementos visuais apresentados determinam as relações existentes entre os participantes representados e o observador da imagem, da mesma forma, como os linguísticos também dão conta das relações entre leitor e produtor e o entendimento dessas categorias da imagem e do texto verbal na metafunção interpessoal são analisadas em paralelo pela Teoria da Complementaridade Intersemiótica de Royce (2007).

 

2.3 Complementaridade intersemiótica interpessoal

 

Segundo Royce (2007) estão em um crescente surgimento trabalhos com os modos visuais realizando significados, mas de maneira inversa não existe uma ampla gama de trabalhos que tratem da relação semiótica entre o modo visual e o modo verbal. Análises desse tipo são de grande valia, tendo em vista a abrangência dos textos multimodais que circulam em diversas esferas da sociedade.

Dessa forma, Royce tem a intenção de compreender o que faz os textos interagirem nas duas modalidades semióticas, para tal, faz uso das metafunções da teoria de Halliday da GSF para o estudo dos significados verbais e de Kresse van Leeuwen com a GDV para os significados visuais. Feito um levantamento desses significados, Royce estabelece um modelo de análise seguindo as metafunções, conforme a seguir, em que apresentaremos apenas a metafunção interpessoal:

Metafunção

Significados

Visuais

(Kress e van Leeuwen 2006)

Complementaridade intersemiótica

(Royce, 2007)

Significados verbais

(Halliday e Matthiesen, 2004)

Interpessoal

(relação entre os participantes)

Contato, envolvimento e poder, distância social e modalidade

Relações semióticas de reforçamento da abordagem; congruência ou dissonância atitudinal

Elemento MODO e Modalidade

 

 

2.4 Popularização da ciência na revista Superinteressante

Os gêneros textuais são “práticas sociais mediadas pela linguagem, compartilhadas e reconhecidas como integrantes de uma dada cultura.” (MOTTA-ROTH, 2006, p.496). Neste trabalho, temos como corpus o gênero textual reportagem, “que discorre sobre um tema, apresentando uma interpretação sobre situações ou fatos relacionados a este.” (LAGE, 2005, apud MOTTA-ROTH e LOVATO, 2009, p. 238). As reportagens possibilitam a popularização da ciência (PC) e a “PC refere-se a um processo de “difusão” do conhecimento científico, “uma ordem discursiva, um terreno de debates e práticas sociais.” (MYERS, 2003, apud MOTTA-ROTH e LOVATO, 2009, p.336).

A leitura de reportagens de PC possibilita que o leitor leigo em assuntos científicos aprenda sobre ciência (medicina, tecnologia, informática, linguagem). Em vista disso, “a popularização da ciência é vital e o acesso à informação deve ser irrestrito, não apenas porque o conhecimento move o mundo, seja nas relações sociais ou econômicas, mas porque é um elemento transformador da vida das pessoas.” (SANTOS, 2001 apud COLUSSI, 2002, p. 9).

Um exemplo de mídia que publica textos de PC é a revista Superinteressante, que divulga resultados científicos, por exemplo, das áreas da saúde, ciência, tecnologia, psicologia. Para tal, faz uso da linguagem verbal e de imagens, construindo desse modo um texto multimodal, que “é qualquer texto cujos significados são realizados por meio de mais de um código semiótico.” (KRESS e van LEEUWEN, 2006, p. 177).

A revista nacional Superinteressante com periodicidade mensal tem, segundo seu site, a seguinte intenção:

surpreendente, dinâmica, bem-humorada, SUPERINTERESSANTE aborda grande diversidade de assuntos como comportamento, saúde, tecnologia, futuro, história, aventura, ciência. Tudo de um modo simples, claro, ilustrado e divertido! Uma revista para ler, pesquisar e guardar! (www.assineabril.com.br/assinar/revista-superinteressante/origem)

Sendo assim, buscamos investigar como essa revista mantêm as relações sociais com seus leitores para popularizar a ciência a partir de dois modos semióticos

3 Metodologia

 

O estudo aqui desenvolvido teve como corpus a reportagem de capa da revista da Editora Abril Superinteressante, intitulada Dieta sem segredo do período de maio de 2009. Esta reportagem tem como autora a repórter Claudia Carmello e a discussão do tema é realizada por meio de um texto multimodal, o que implicou na análise das duas modalidades semióticas presentes: linguagem verbal e linguagem não-verbal imagética. Seguindo os pressupostos teóricos da metafunção interpessoal para o visual e o verbal apresentados no referencial teórico deste artigo, este trabalho foi realizado em três etapas: 1) análise dos significados visuais; 2) análise dos significados verbais; 3) aplicação da teoria de Royce (2007).

Os significados visuais foram extraídos das cinco imagens presentes na reportagem e os significados verbais das dez folhas com texto verbal, em que foram analisadas as orações e algumas delas foram apresentadas ao longo das análises e discussões. Nestas orações foi identificado o tipo de mercadoria trocada, a ordem dos participantes, os modos presentes ao longo do texto, assim como as modalidades.

Na seção ‘análise e discussões’ foram apresentadas as três etapas anteriormente citadas, promovendo uma discussão do que expressam os significados visuais e verbais obtidos, para que logo após a teoria da Complementaridade Intersemiótica de Royce fosse realizada. As imagens apresentadas foram expostas em ordem diferente da que aparece na reportagem, pois foram agregadas com o que têm em comum. Elas estão identificadas ao na seção com a numeração real em que aparecem na reportagem, porque após a análise das características visuais, também discutiremos como estão dispostas ao longo da reportagem e o que isso significa. As conclusões apresentadas foram referidas como considerações finais parciais, visto que o assunto não está esgotado e como este estudo faz parte de uma dissertação de mestrado que está no início do seu processo de construção de ideias.

Na análise visual quem lê as reportagens foi denominado observador e na análise linguística, leitor, respeitando as denominações de Krees e van Leeuwen que tem como nome para o leitor da imagem: viewer. As análises realizadas consideraram as relações entre participantes interativos e representados.

O MODO apresentado no referencial teórico está como modo nas análises e discussões, com a intenção de manter uma coerência visual na apresentação.

4 Análise e discussões

 

A reportagem Dieta sem segredo tem como tema dieta alimentar e defende o posicionamento de que para emagrecer não é necessário recorrer a dietas “malucas” e sim seguir uma reeducação alimentar paulatina e constante, além de auto-aceitação, ou seja, o indivíduo necessita analisar o porquê quer emagrecer e ter consciência da sua carga genética.

Passamos para a análise visual e linguística da reportagem:

1 ) Análise  dos significados visuais:

 

Dieta sem segredo possui cinco imagens: três imagens de mulheres e duas de homens, destas, apenas uma tem o tamanho diferente das demais, é a que inicia a reportagem e ocupa toda a primeira página:

 

 

Imagem 1

 

 

 

Na página seguinte a esta imagem é apresentado o título da reportagem e acreditamos que o motivo dela ocupar toda a primeira página é atrair a atenção do leitor para o texto, além de tentar chocá-lo com o tamanho demasiado grande do participante representado, o que já indica que ele precisa de uma dieta.

As imagens 4 e 5, em tamanhos menores do que a 1, têm as mesmas características interpessoais para tratar com o leitor. Nas três imagens – 1, 4 e 5 – são apresentadas imagens de oferta, pois o olhar dos participantes está ausente e isso confere ao observador imagens como itens de informação, sugerindo que basta seguir as dietas “malucas” representadas nas camisetas dos participantes que o resultado será um corpo obeso, ou seja, elas não funcionam corretamente para o emagrecimento.

 

 

Imagem 5

Imagem 4

 

 

O rosto não é visto e os participantes são apresentados em um plano médio, o que pode indicar uma distância do tipo social média entre os participantes representados e o observador, já que este não é íntimo de quem está na imagem e nem tão distante, pois devido a outras características como modalidade e ângulo frontal, ele pode refletir sobre o que vê e até identificar-se.

O ângulo horizontal destas imagens é frontal, o que confere proximidade com o observador, pois como afirma o texto verbal “o mundo está engordando”, ou seja, corpos obesos não é uma realidade distante de quem tem interesse nesta reportagem. O ângulo vertical está ao nível ocular, não demandando hierarquia de poder entre a imagem e o observador e sim igualdade, confirmando o que posto pelo ângulo horizontal.

A modalidade que trata o quão real são as imagens é alta, visto que as cores são saturadas, as imagens são fotorrealísticas, a abstração é ausente, o único fundo que existe em todas as imagens são cores azuis de fundo para participantes masculinos e cores rosa para femininos. Há luz na imagem o que possibilita identificar com facilidade a gordura nos corpos ou a ausência dela, como na imagem 5.

As duas imagens restantes diferenciam-se das já apresentadas somente em relação ao ângulo horizontal:

 

Imagem 2

Imagem 3

 

 

O ângulo horizontal dessas imagens é oblíquo, conferindo distanciamento com o observador. Esse distanciamento sugere que as dietas “malucas” não auxiliam no emagrecimento e quem vê essas imagens deve distanciar-se delas se a intenção é perder peso. Além disso, é possível perceber que em qualquer ângulo a obesidade sempre será vista aliada a dietas que não funcionam.

Na ordem natural em que aparecem as imagens, inicialmente o observador é atraído por uma grande imagem, as duas seguintes apresentam corpos obesos sugerindo que o observador se distancie deles, a quarta imagem relembra o corpo obeso e a que finaliza o assunto tratado é a de um corpo magro, ou seja, do corpo almejado pelos obesos.

Realizados os estudos nas imagens de Dieta sem segredo, passamos para a análise da linguagem verbal presente no texto.

 

2) Análise dos significados verbais:

 

As mercadorias trocadas ao longo da reportagem são informações sobre dietas, o que resulta na presença de proposições ao longo do texto. O modo predominante foi o declarativo, seguido do modo interrogativo e em bem menor quantidade temos frases no imperativo, conforme mostram os exemplos abaixo:

 

O jeito garantido para emagrecer é devagar e sempre (...).”

SUJEITO                                FINITO

Não é difícil entender a mania de dieta: o mundo está engordando.”

SUJ.  FINITO

A principal novidade é que discutir qual é a melhor dieta é bobagem.”

SUJEITO   FINITO

Perder peso e manter o resultado é um objetivo difícil e não tem receita de sucesso.”

SUJEITO                                FINITO

O carboidrato é o principal combustível do corpo.”

SUJEITO FINITO

O que não significa que seja fácil”

SUJ   POL. FINITO NO VERBO.

 

“Na verdade, não segredo para emagrecer.”

POL. FIN.

As frases acima apresentadas são declarativas em que o finito precede o sujeito e indica o tempo presente, o que pode sugerir que fazer dieta revela atitudes que precisam ser tomadas hoje para que o emagrecimento faça parte constante da vida. As frases com polaridade negativa dizem respeito ao que existe para emagrecer e não funciona e as positivas reforçam o que efetivamente emagrece.

As frases interrogativas estão em menor quantidade no texto e é uma estratégia para dar explicações aos leitores, ou seja, a resposta a pergunta é a explicação que o leitor precisa ter conhecimento:

“O que acontece se você passar a comer muito pouco?”

“Quem não conhece um cara que come até estourar e nunca engorda?”

“Alguém consegue passar a vida num regime desses?

Em menor escala temos o modo imperativo, como por exemplo:

“Veja bem (...)”

“Seja sincero com você mesmo (...)”

Essa quantidade significativa inferior de frases imperativas sugere que o leitor da reportagem não precisa executar ordens, mas sim sensibilizar-se com as frases declarativas que leu e tomar um posicionamento sobre sua dieta alimentar.

Encontramos também modalizações ao longo do texto:

"Aliás dietas malucas podem até engordar”

Sempre que você tem um cardápio com alimentos que não fazem parte do seu dia-a-dia, é claro que você vai largar a dieta.”

Das frases acima, podemos verificar que há uma probabilidade das dietas malucas além de não emagrecerem, engordarem e que seguir algo diferente do seu usual mostra que sempre vai dar errado, pois a reportagem não defende radicalismos e sim atitudes de reeducação alimentar paulatinamente, até porque constam explicações na reportagem de que o corpo reage contra as dietas até elas tornarem-se hábitos.

Como a revista é de popularização de ciência, a reportagem é embasada em experiências científicas e faz uso de fontes confiáveis, como em:

“É a publicação, no New England Jounal of Medicine, dos resultados do maior experimento já feito na área (...).”

“Há também a questão do exercício: para a OMS, há evidências convincentes de que eles não emagrecem.”

Mesmo com o uso de fontes confiáveis, a revista faz uso da linguagem informal:

“Seus pneus só precisam de um empurrão firme para rodar.”

“Quem já mandou um pacote de biscoitos recheados para dentro sabe bem.”

A revista parece ter a intenção de aproximar-se do leitor e muitas vezes o produtor está incluído na leitura e nas atitudes que devem ser tomadas para emagrecer. Isso diminui a distância entre a ciência e o leitor como mostram as frases:

“Para a maioria de nós, nenhuma delas funciona.”

“Se a gente fosse uma máquina, era só programar (...).”

A partir das amostras de elementos lingüísticos constantes no texto e das imagens anteriormente discutidas, passamos para a última etapa da análise.

 

3) Aplicação da teoria de Royce (2007):

De posse dos significados visuais e verbais extraídos de Dieta sem segredo é possível afirmar que existem relações semióticas de reforçamento do assunto tratado. Os elementos linguísticos têm a intenção de esclarecer que não existem dietas radicais para um emagrecimento seguro, mas que é a adoção de hábitos diários saudáveis que possibilitam uma perca de peso sem que ele retorne assim que a dieta terminar. As imagens apresentadas têm o interesse de corroborar com a linguagem verbal, pois apresentam seus participantes obesos em imagens fotorrealísticas com camisetas que defendem dietas que não funcionam, enquanto que o participante magro faz uso de uma camiseta em que a dieta faz parte da conduta de 1kg por vez, ou seja, para emagrecer radicalismos não funcionam e isto é confirmado tanto verbalmente quanto visualmente.

As cinco imagens de oferta são itens de informações para o leitor, o que se confirma pela recorrência de proposições ao longo do texto, além disso, a distância social é reduzida tanto verbalmente quanto visualmente, pois nas imagens além do ângulo frontal, a relação de poder entre os participantes representados e o observador é igual e verbalmente isso também se confirma.

Há uma maior referência verbal e imagética a gordura, enquanto que o tipo físico idealizado aparece ao final da reportagem com o intuito de mostrar que é possível metaforicamente superar as “etapas obesas” da leitura e ser magro.

5 Considerações finais parciais:

A complementaridade intersemiótica interpessoal se faz presente na análise pois tanto os elementos visuais quanto os verbais dão conta de dar informações e manter uma relação de proximidade com o leitor/expectador.

A revista apresenta um assunto de grande interesse a partir de pesquisas científicas atendendo a que se propõe: informar de um modo “claro, simples, divertido e ilustrado”, já que sua linguagem é de fácil compreensão, explicativa, estabelece um diálogo com o leitor e faz uso de imagens realísticas.

A análise multimodal desta reportagem pode confirmar o engajamento entre linguagem verbal e imagens para a construção de significados. As duas modalidades semióticas são importantes, pois o texto verbal confere explicações que são difíceis de serem mostradas por imagens e, ao mesmo tempo elas sintetizam e simbolizam o texto verbal e não são meros adornos dos elementos linguísticos. As imagens, portanto, não são meros enfeites lúdicos do texto: se o leitor não se sensibiliza lendo os parágrafos, choca-se olhando para as imagens.

 

Referências bibliográficas

CARMELLO, C. Dieta sem segredo. Superinteressante. São Paulo, n. 265, p. 46-55, maio de 2009.

 

COLUSSI, L. A reescritura da informação científica em gêneros de popularização da ciência. 2002. 102 fl. Dissertação (Mestrado em Letras). Universidade Federal de Santa Maria. Disponível em: <http://w3.ufsm.br/desireemroth/dissertacoes/lucolussi.pdf>.  Acessado em 20 de set. 2009.

 

HALLIDAY, M. A.K , MATTHIESEN, C. An introduction to functional grammar. 3. ed. London: Arnold, 2004.

 

KRESS, G; LEEUWEN, T. Reading Images: The grammar of visual design. 2. ed. London: Routlegde, 2006.

 

MOTTA-ROTH, D.; LOVATO, C. S. Organização retórica do gênero notícia de popularização da ciência: um estudo comparativo entre português e inglês. Linguagem em (Dis)curso, Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão: Ed. Unisul, v.9, n.2, 2009. Disponível em: <http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/0902/02.htm>. Acessado em 27 out. 2009

 

MOTTA-ROTH, D. O ensino de produção textual com base em atividades sociais e gêneros textuais. Linguagem em (Dis)curso, Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão: Ed. Unisul, v.6, n.3, 2006. Disponível em < http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/0603/07.htm> Acessado em 20 set. 2009

 

ROYCE, T. D. Intersemiotic complementarity: A framework for multimodal discourse analysis. In Royce, T.D.; Bowcher, W. L. (Eds.). New  directions in the analysis of multimodal discourse. Mahwah, New Jersey: Lawrence Elbaum, 2007. p.63-109